Uma mulher como as outras
Outro dia um amigo por quem tenho um
grande carinho disse que não sou deste mundo. Sempre guardo imenso carinho
pelos homens com quem tive momentos intensos na cama e que souberam transformar
isso em respeito e amizade (e não em perseguição, hostilidade, medo ou desprezo
– mas isso é assunto para outro dia). Ele disse que sou criativa no sexo – o que
é um grande elogio, mesmo. Mas a fala dele também tinha uma pontinha de
julgamento sobre a “frieza” das outras mulheres. Isso sempre me incomoda na
fala de alguns homens, tanto os que me conheceram quanto os que apenas leram o
que escrevi.
Moços, foi bem legal ter me
tornado inesquecível pra alguns e não é ruim participar das fantasias de outros, mas é nas mulheres
que estou interessada. É a elas que eu me dirijo aqui, é pensando nelas que escrevo.
Homens são bem-vindos, mas como sujeitos da empatia com os enormes desafios de
ser sexualmente feliz pertencendo ao outro gênero. Traduzindo, se querem saber
mais sobre as mulheres através das minhas palavras, sejam bem-vindos. Mas não
me coloquem em competição com a minha classe porque meu ponto de vista é o da sororidade (o programa pede para trocar
por “sonoridade”!; caro corretor automático, sororidade é o equivalente feminino da fraternidade masculina).
Então é isso. Não sou uma máquina de
sexo abençoada por deus com um gozo poliastronômico. Gozar chupando, tocando,
beijando, até mesmo só pensando, é resultado de muito, muito trabalho; muita,
muita leitura; muita luta libertária e antimachista (antifascista também, querido
corretor).
E eu não fui sempre assim, ao contrário! Mas essa história toda eu
conto no meu livro. O livro, se você ainda não leu, é sobre isso. E o que eu
desejo, mesmo, é que todas as mulheres cheguem lá, nesse sexo feliz e
polimórfico. O mundo, então, poderia ser bem mais gostoso, mais igualitário,
menos opressivo.
Mas para isso é preciso reivindicar a
posse do próprio corpo, empoderar-se (caro
corretor: empoderar-se é o contrário de moderar-se),
passar por maluca... Sem o apoio de outras mulheres é impossível. Eu estou aqui
para apoiar quem quiser vir comigo e conquistar o apoio de quem já passou por
isso.
Meu nome é Anna P. Sou uma mulher como
as outras.