Estupro não é sexo
Ela pode roupas curtas
Ela pode rebolar
Ela pode beber
Ela pode fumar
Ela pode ser vulgar
Ela pode provocar
Ela pode beijar
Ela pode transar
Ela pode
Mas ela não pode ser estuprada
Porque estupro não é sexo
É simples
Estupro não é sexo
Conta pros seus amigos
Estupro não é sexo
Ensina seu filho
Estupro não é sexo
É violência
Estupro não é sexo
É crime
Estupro não é sexo
Estupro não
Não
sexta-feira, 17 de junho de 2016
quinta-feira, 5 de maio de 2016
Sobre o dia das mães
“Nós não tivemos pai, as mães sofrendo e a fome
batendo. Eu sempre falo para os meus filhos: Não cobra de mim ser um bom pai
porque eu não tive pai’”.
O depoimento é de um artista famoso e me impressionou
pela aceitação cândida de uma impossibilidade. Seguindo a lógica do raciocínio,
os filhos do artista não poderiam ser bons pais porque não tiveram um bom pai,
ou seriam bons pais porque tiveram pai, mesmo que ruim? Complicado...
Reconheço a verdade preguiçosa que há na fala do
artista: um pai ausente ou ruim, tomado (mesmo inconscientemente) como
referência, pode deixar no filho uma tendência à repetição. Também entendo que
exista no depoimento uma expressão bastante pura do senso comum patriarcal, que
considera dado e inquestionável o fato de que mães e pais são coisas
completamente diferentes. E não desconsidero os meandros da divisão sexual do
trabalho, de sua naturalização como capacidades e incapacidades inatas ao
feminino e ao masculino etc.
É mesmo um imbróglio! Mas, a partir do momento em que
um homem se propõe a ser um bom pai, não é possível ir desfazendo esses nós?
Afinal, afora gerar, parir e amamentar, o que uma mãe faz que um pai não
poderia fazer? Em outras palavras, seria impossível aprender a ser pai com a sua
mãe?
Imagino que esse artista e todos os filhos de pais
ausentes puderam observar que sua mãe os pegou no colo, trocou infinitas fraldas,
cantou para que eles dormissem, velou as noites de febre e resfriados, assoprou
o dodói do joelho, deu muitos beijinhos, ensinou parlendas, se desdobrou no
trabalho para comprar roupas, leite e brinquedos, tirou da própria boca para
dar aos filhos, enfrentou filas no posto de saúde e na matrícula escolar,
chegou todas as noites em casa cansada demais para brincar, mas mesmo assim
brincou, ensinou a usar a colher e o penico, a dizer obrigado e por favor e
tentou ensinar a diferença entre o que é bom e o que é ruim da melhor maneira
possível.
Também puderam observar que, entre trabalho, casa,
filhos e privação de sono, sua mãe nunca mais teve descanso. E que ela aprendeu
a descansar de uma coisa enquanto fazia a outra e a se contentar com pequenas e
raras pausas.
Pois é, a paternidade é isso também: cuidado, carinho,
limites e muito trabalho. Igualzinho à maternidade, só que dividida por dois
adultos menos exaustos e mais aptos a criar uma criança feliz.
Pelas mulheres que são ou serão mães, pelas crianças e
também pelos pais, desejo que todos tomem para si a responsabilidade pela
criação dos filhos. De agora em diante.
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